Com a força da mobilização nas ruas o povo egípcio derrubou dois presidentes nos últimos anos e agora encontra o que pode ser seu maior desafio, derrubar a ditadura militar que comanda o país política e economicamente e que está empregando todas as forças numa feroz repressão ao movimento.
Desde 2011 os egípcios têm travado uma batalha
heroica e revolucionária contra a ditadura militar que comanda o país política
e economicamente. Primeiramente, derrubaram Mubarak, e com novos protestos no
ano seguinte conseguiram, contra a vontade da Junta Militar, antecipar as
eleições. Em meados de 2012 elegeram Mursi da Irmandade Muçulmana contra o
candidato dos militares apenas para em meados de 2013 promover novas
manifestações multitudinárias contra medidas repressivas do novo governo e
contra o fato de que ele não havia alterado a situação econômica e social
caótica em que se encontrava o país. As manifestações de junho de 2013 forçaram
os militares a retirar Mursi da presidência, num processo contraditório, a
partir do qual os militares, que na medida em que seguem tendo o controle das
principais instituições do país são os responsáveis pelos principais problemas
vividos pelos trabalhadores e jovens, passaram a ser vistos por parte da
população como aqueles que garantiram o interesse do povo egípcio.
Agora, com novas eleições
marcadas para 26 e 27 de maio, para as quais o principal nome é do general
Abdel Fattah al-Sisi, a revolução egípcia tem o desafio de manter a mobilização
e a luta contra a ditadura num contexto da mais brutal repressão que vem sendo
empreendida pelo governo militar desde que tirou Mursi do poder. Com a
justificativa de que os protestos vêm paralisando e destroçando a economia
egípcia, promulgaram uma legislação anti-protestos e vêm prendendo, condenando
e assassinando milhares de ativistas.
Recentemente
um tribunal da província de Minya condenou a morte 529 seguidores da Irmandade
Muçulmana. O “julgamento” que precedeu essa condenação massiva durou apenas
três dias e os acusados não tiveram nenhum direito à defesa. De fato, durante
as audiências judiciais nem sequer esteve presente a maioria dos processados.
Membros do movimento jovem 6 de abril protestam contra o governo vigente no Egito após forças policiais terem prendido vários manifestantes. Fonte: UOL |
No último dia sete, três
lideranças do movimento 6 de Abril que estiveram na linha de frente dos
protestos contra Mubarak, contra Mursi e agora contra Sisi, foram condenados a
três anos de prisão[1]. Os ativistas já tinham sido presos nos
governos Mubarak e Mursi, mas os militares foram mais longe ao condená-los. No
dia oito de abril quatro homens foram condenados a sentenças de até oito anos
por serem homossexuais[2].
Com isso os militares mostram
sua cara, eles comandam o país e controlam a economia e as principais empresas.
São os principais inimigos do povo egípcio, beneficiados pelos acordos com os
EUA e com o Estado de Israel e que por isso além de oprimir e reprimir seu
próprio povo, oprimem também os seus vizinhos palestinos.
Não apoiamos as mobilizações
pela volta de Mursi ao poder, pois foi a mobilização popular que levou à sua
queda. Ao contrário, ele e seus comparsas, assim como Mubarak, deve ser punido
por seus crimes contra o povo egípcio.
Os trabalhadores e ativistas
devem constituir um terceiro campo, sem os militares e a Irmandade Muçulmana
para varrer a ditadura militar de uma ver por todas do país.
[1] http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2014/04/egypt-upholds-jail-sentence-activists-20144712383039431.html,
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/03/24/tribunal-no-egito-condena-529-correligionarios-de-morsi-a-morte.htm,
http://www.haaretz.com/news/middle-east/1.564864
[2] http://www.bbc.com/news/world-middle-east-26934432