14 de abr. de 2014

A ofensiva do regime militar contra o povo egípcio

Com a força da mobilização nas ruas o povo egípcio derrubou dois presidentes nos últimos anos e agora encontra o que pode ser seu maior desafio, derrubar a ditadura militar que comanda o país política e economicamente e que está empregando todas as forças numa feroz repressão ao movimento.


Desde 2011 os egípcios têm travado uma batalha heroica e revolucionária contra a ditadura militar que comanda o país política e economicamente. Primeiramente, derrubaram Mubarak, e com novos protestos no ano seguinte conseguiram, contra a vontade da Junta Militar, antecipar as eleições. Em meados de 2012 elegeram Mursi da Irmandade Muçulmana contra o candidato dos militares apenas para em meados de 2013 promover novas manifestações multitudinárias contra medidas repressivas do novo governo e contra o fato de que ele não havia alterado a situação econômica e social caótica em que se encontrava o país. As manifestações de junho de 2013 forçaram os militares a retirar Mursi da presidência, num processo contraditório, a partir do qual os militares, que na medida em que seguem tendo o controle das principais instituições do país são os responsáveis pelos principais problemas vividos pelos trabalhadores e jovens, passaram a ser vistos por parte da população como aqueles que garantiram o interesse do povo egípcio.
                Agora, com novas eleições marcadas para 26 e 27 de maio, para as quais o principal nome é do general Abdel Fattah al-Sisi, a revolução egípcia tem o desafio de manter a mobilização e a luta contra a ditadura num contexto da mais brutal repressão que vem sendo empreendida pelo governo militar desde que tirou Mursi do poder. Com a justificativa de que os protestos vêm paralisando e destroçando a economia egípcia, promulgaram uma legislação anti-protestos e vêm prendendo, condenando e assassinando milhares de ativistas.
                Recentemente um tribunal da província de Minya condenou a morte 529 seguidores da Irmandade Muçulmana. O “julgamento” que precedeu essa condenação massiva durou apenas três dias e os acusados não tiveram nenhum direito à defesa. De fato, durante as audiências judiciais nem sequer esteve presente a maioria dos processados.

     Membros do movimento jovem 6 de abril protestam contra o governo vigente no Egito após forças policiais terem prendido vários manifestantes. Fonte: UOL
                No último dia sete, três lideranças do movimento 6 de Abril que estiveram na linha de frente dos protestos contra Mubarak, contra Mursi e agora contra Sisi, foram condenados a três anos de prisão[1].  Os ativistas já tinham sido presos nos governos Mubarak e Mursi, mas os militares foram mais longe ao condená-los. No dia oito de abril quatro homens foram condenados a sentenças de até oito anos por serem homossexuais[2].
                Com isso os militares mostram sua cara, eles comandam o país e controlam a economia e as principais empresas. São os principais inimigos do povo egípcio, beneficiados pelos acordos com os EUA e com o Estado de Israel e que por isso além de oprimir e reprimir seu próprio povo, oprimem também os seus vizinhos palestinos.
                Não apoiamos as mobilizações pela volta de Mursi ao poder, pois foi a mobilização popular que levou à sua queda. Ao contrário, ele e seus comparsas, assim como Mubarak, deve ser punido por seus crimes contra o povo egípcio.
                Os trabalhadores e ativistas devem constituir um terceiro campo, sem os militares e a Irmandade Muçulmana para varrer a ditadura militar de uma ver por todas do país.