24 de nov. de 2013

Prepare-se: O verão 2014 do apartheid vem aí!

Na sexta-feira o Governo do Rio de Janeiro anunciou que a Polícia Militar vai revistar todos os ônibus que circulam na orla da Zona Sul, com o objetivo de evitar arrastões. "Menores" desacompanhados podem ser encaminhados ao Conselho Tutelar.

Não precisa ser um grande especialista para entender que todos os "menores" desacompanhados podem ser encaminhados ao Conselho Tutelar, mas na prática, os jovens negros serão certamente atingidos com mais força com essa medida.

A situação está acontecendo no Rio de Janeiro, não em São Paulo e não no ABC. Mas é emblemática porque os jovens negros, moradores dos bairros mais pobres sabem que esse é só mais um episódio de um drama que vivem a cada dia. No mês passado a PM assassinou Douglas na Zona Norte de São Paulo e na semana passada foi Wiliam, em Guarulhos.

Por isso hoje publicamos um texto de dois companheiros, ela do ABC e ele do Rio de Janeiro, sobre a praia, os arrastões e a cruel forma de inserção dos negros na economia carioca.

Prepare-se: O verão 2014 do apartheid vem aí!


Por Maximiano Laureano da Silva e Ana Paula

A praia carioca como espaço de integração social é um mito. Ao contrário do que dizem, a praia do Rio como ambiente de lazer - e de trabalho! - sempre foi bastante demarcada, com evidentes ritos de delimitação social.

Na ida, na estadia e na partida, cada grupo social fica em seu "quadrado". O rico, a classe média alta, quando vai a praia na cidade do Rio de Janeiro fica nas barracas e cadeiras de praia. A classe média leva sua canga. Para os pobres e pretos sobra a areia, às vezes uma canga do SAARA, ou a toalha de banho já surrada.

Como se chega a praia também é outra marca das diferenças sociais. Para uns é só atravessar a rua, para outros pegar carro na garagem ou motorista particular, ou chamar um táxi. Porem, para outros é preciso encarar horas em pé no ônibus lotado num dia de calor. Para estes, molhar os pés na água salgada do mar já virou peripécia.

E no meio de um mundaréu de gente lambuzada de óleos e protetor solar, uma porção de cadeiras, cangas, toalhas e vendedores de tudo que se pode imaginar, às vezes, é possível se deparar com arrastões. E a cena é assustadora. É uma horda de jovens que ataca banhistas e sai pegando tudo que estiver pelo caminho. A técnica, poucos se dão conta, foi inventada pela TV Globo que filmando do alto uma briga de gangs de favelados na praia em 1992, espetacularizou de forma racista os conflitos, generalizando o conceito "jovem negro bandido", sendo rapidamente seguida por jovens desvalidos sem nada a perder que pensaram: "Ah, é? Então já é!"

O aspecto omisso de tudo isto é que os grupos de assaltantes é ínfimo. No geral são tumultos, conflitos entre jovens negros favelados, que andam em bando na zona sul por instinto de autodefesa (são vítimas de racismo fruto do receio dos moradores e da violência truculenta dos policiais).

Óbvio que a maioria dos grupos de jovens negros que se dirigem às praias do Rio NÃO são de vândalos assaltantes. Mas não é assim que pensa os moradores brancos da zona sul por insistência e conveniência dos grandes meios de comunicação e da polícia que, de forma estúpida, sai bordoando qualquer grupo de jovens negros que lhe vier pela frente. E uma parte olha e diz: Qual o problema, são só bandidos! Mas não são bandidos, são todos Amarildos...

E então eu me pergunto: como resolver esta situação explosiva, reflexo mais do que óbvia de nossa exclusão sócio racial? Será que é abater a tiros todos os jovens negros que ousam ir à praia? É, isto não vai dar.

O interessante é que na edição do Jornal O Globo que estampa a manchete dizendo que o Bope e Batalhão de Choque vão proteger as praias do "Black Blacks", diz também que o BNDES vai bancar obra do aeroporto do Galeão privatizado. O BNDES abriu linha de crédito especial para financiar até 70% dos investimentos que serão feitas pelos futuros donos dos aeroportos de Galeão. Este empréstimo será de até R$ 6,44 bilhões e a concessão do Galeão será concedida por 25 anos.

Enquanto o preto pobre favelado segregado e oprimido na Zona Sul vai ficando cada vez mais segregado, proibido de ir até à praia, o governo dá bilhões de graça para quem vai explorar com subempregos - e utilizando verbas públicas - , esses mesmos meninos e suas famílias. E assim o racismo no Brasil se renova, mas continua servindo muito bem ao Capitalismo.

E a conclusão, para um futuro bem próximo, sobre o que acontecerá nas praias cariocas é óbvia e já tem até slogan: “Prepare-se: O verão 2014 do apartheid vem aí!”
Fim


É o racismo, combinado com a explosiva desigualdade social em nosso país que faz com que os negros e negras em nosso país tenham que travar uma dura batalha para sobreviver.
Por isso em exigimos:

  • Fim da Polícia Militar! É necessária outra política de segurança, controlada pela população!
  • Fim do extermínio do povo negro!