16 de out. de 2013

Contra o Leilão de Libra, Petroleiros vão a Greve Unificada


Está marcado para o dia 21 de outubro o leilão do campo de Libra. O governo Dilma diz que só com essa venda e os pagamentos dos royalties do petróleo será possível garantir os recursos necessários ao investimento de 10% do PIB na Educação, e argumenta que essa forma de leilão não é privatização.

Entretanto, a situação não é exatamente como gostaria de pintar o governo. O leilão é uma forma de entregar nossas reservas naturais às multinacionais e é preciso que se diga que, apesar de toda a campanha política contra as privatizações na época das eleições, os governos do PT já entregaram mais do nosso petróleo do que o governo FHC e agora avançam para entregar o Pré-sal.



Por isso o PSTU está na campanha contra o leilão do campo de Libra, junto com a CSP-Conlutas e as demais Centrais Sindicais. Os sindicatos dos petroleiros de todo o país também estão organizando manifestações e paralisações durante todo o mês de outubro.
Entrevistamos Duarte, trabalhador da Petrobras desde 1979, foi um dos fundadores do Sindipetro São Paulo, participou de todas lutas da categoria, atualmente trabalha no Terminal de Barueri e milita na oposição A Base Presente, construindo a FNP. Duarte é também militante do PSTU.


PSTU ABC: Por que os petroleiros estão na campanha contra o leilão do campo de Libra?
Duarte: Na  verdade estamos contra toda forma de privatização, é que o governo Dilma assim como o de Lula, usou expressões diferentes que dizem a mesma coisa tipo: Leilão, Concessão, Parceria Publico Privadas etc..., mas em relação ao campo de Libra é um roubo que ninguém que tenha um pouco de conhecimento pode concordar, pois trata-se da entrega do maior campo de Petróleo, que tem uma reserva comprovada de mais ou menos 15 Bilhões de barris, tudo que a Petrobras produziu em sua Historia de 60 anos.

PSTU ABC: A Petrobrás hoje possui cerca de 70 mil trabalhadores contratados por ela e mais de 300 mil terceirizados. Como chegou a esse ponto e quais as consequências disso para os trabalhadores e para a população brasileira?
DuarteOs números exatos não temos no momento mas no Governo Dilma já chega a 360 Mil trabalhadores terceirizados , para  mais ou menos 83 mil trabalhadores direto na Holding. Chegou-se a este ponto por uma política  neoliberal que iniciou-se com Fernando Collor e só vem aumentando por cada Governo FHC, Lula, e Dilma e como consequência    um aumento da precarização do trabalho, diminuição dos salários, maiores dificuldades para organização Sindical, há inclusive empresas terceirizadas que ficam três meses sem pagar os salários dos trabalhadores. Com isso há um aumento de lucro da Petrobras e aumento de rendimentos dos acionistas, que já uma outra face da Política Neoliberal.

PSTU ABC: Qual você entende que deveria ser o modelo de exploração de petróleo adotado pelo Brasil?
Duarte:  Primeiro é preciso que se diga , que nós não temos necessidade de explorar o Petróleo do Pré –Sal , apesar dos trabalhadores da Petrobras terem desenvolvido tecnologia para se retirar petróleo baixo de 7.000 metros abaixo do nível do mar.  Mas a melhor maneira de explorar as riquezas minerais é com uma empresa 100% estatal, para atender as necessidades dos trabalhadores brasileiros, abaixando os custos dos derivados e não seguindo a lógica do mercado, que na verdade existe  uma armadilha armada pelo “mercado”  contra a Petrobras e o Brasil, seguindo esta lógica hoje existe o endividamento exagerado e desnecessário da Petrobras, inclusive a Petrobras passa por duas políticas se combinam um o Procop, que é plano de “redução” de custo que significa corte de conquistas e redução de salário e a outra política é “desinvestimentos” que significa colocar os ativos a disposição desfazendo inicialmente dos campos terrestre maduros  a favor da iniciativa privada.  Enfim nós teríamos que administrar nossas reservas, em primeiro lugar  não explorar Petróleo para exporta ele cru, e sim exportar derivados, produtos químicos que agregariam valor, desenvolveriam a indústria nacional e criariam empregos, seriam outras lógicas totalmente opostas às políticas que vem sendo aplicadas.

PSTU ABC: Voltando ao leilão do campo de Libra. O governo argumenta que a venda trará bilhões de reais em recurso para o Brasil. Mas a Petrobrás tem algum estudo que aborda qual pode ser o lucro dos compradores com o pré-sal?
Duarte: A única razão para o governo “leiloar” Libra é uma imposição do “mercado”, primeiro para entregar um ativo , que os banqueiros especulam, e segundo é para cumprir as metas do FMI de superávit fiscal, ou seja o que o governo arrecadar só vai entrar contabilmente, e depois devolvido aos próprios banqueiros, os mesmo que financiam as campanhas eleitorais destes governos submissos ao “mercado”.  Para se ter ideia do lucro cada barril do campo de libra estará sendo vendido por um dólar, enquanto o barril está em torno de U$ 120,00.  De acordo com o Relatório da Petrobras de 2012, o custo médio de produção em 2012, foi de US$ 13,92/boe. Considerando este custo para produzir toda a reserva de 100 bilhões de barris, gastaríamos US$ 1,3 trilhão de dólares e arrecadaríamos US$ 9 trilhões de dólares, portanto, renderia um excedente de riqueza equivalente a US$ 7,7 trilhões de dólares.
Fazendo estas contas anualmente, em valores de 2012, teríamos uma produção de 2 bilhões de barris a US$ 100 dólares dá US$ 200 bilhões de dólares. O custo de produção é, mais ou menos, de US$ 28 bilhões.
 Teríamos, portanto, um excedente anual de US$ 172 bilhões de dólares, dinheiro suficiente para garantir os investimentos na Petrobras e ainda sobrar para um plano de desenvolvimento econômico do Brasil.


PSTU ABC: Quais atividades estão sendo planejadas na campanha contra o leilão de Libra? Como as pessoas podem se envolver na campanha?
Duarte: Primeiro já foi feita uma greve de 24hs no dia 3 de outubro, aniversário de 60 anos da Petrobrás, com atos e manifestações. 

Para amanhã, dia 17 está marcada uma greve por tempo indeterminado, que combina duas questões uma é o leilão de Libra e outra é nossa campanha salarial, pois desde agosto, foi entregue nossa pauta de reivindicações e a direção da empresa vem enrolando, nós temos a mesma data base de Bancários, Correios e outras categorias como Metalúrgicos do ABC, mas não houve uma coordenação da CUT a principal Central Sindical  para unificar  estas categorias, que poderia ser uma força enorme de tivessem unificadas, mas as direções não querem.

PSTU ABC: Você acha que é possível impedir o leilão?
Duarte: Eu faço uma analogia ao futebol, é possível sim, apesar de estarmos nos minutos finais é possível virar este jogo, nosso time (os trabalhadores) são bons, estamos com a torcida a nosso favor (a conjuntura) , só há um problema o nosso técnico (as direções) pelo que parece não querem ganhar o jogo, fica com uma tática recuada, parece aquele técnico que já tem contrato pré- assinado com o outro time (governo e empresários), se nós formos capaz de ir pra cima com força é possível virar o jogo, prá isso ou nosso técnico rasca o contrato com o outro time, ou mudamos de técnico, ai podemos ser vencedores nas duas coisa termos aumento real no nosso salário, e derrotarmos o governo no Leilão de Libra.

PSTU ABC: Gostaria de falar algo mais sobre o que ainda não comentamos aqui?
Duarte: Sim, sou de uma categoria  que construiu duas principais organizações da nossa classe a CUT e o PT e durante muito tempo essa categoria apostou e teve esperança em um governo do PT, este momento chegou e infelizmente a categoria viu suas esperanças se esvair como fumaça, tanto o governo Dilma e de Lula, foi um governo dos banqueiros, empresários, não foi um governo para os trabalhadores, é só ver esse leilão de Dilma,  deixou FHC  no chinelo, esta entregando muito mais que FHC, este é balanço esta em andamento na categoria.
Só para ser uma ideia, estes dias quando estávamos distribuindo o Boletim da Oposição Base Presente na porta da Refinaria de Capuava (Mauá), um dirigente sindical da CUT, questionou como faríamos para entregar gás de cozinha de graça para os trabalhadores brasileiros?  Respondemos que é possível, é só seguir outra política, pois  é um erro ancorar o preço interno ao preço internacional, sujeito a especulação.
Desde da criação da URV por FHC  os preços de combustível, aço e alimentos no Brasil estão dolarizados. É possível vender a gasolina  a R$ 1,00, é possível vender diesel a R$ 1,00, é possível que aquilo que é produzido pelos trabalhadores brasileiros seja utilizado pelos brasileiros, mas para isto é preciso romper com FMI, com o consenso de Washington , enfrentar as distribuidoras, e isto ao que me parece este e outros governos não estão dispostos a fazer, eles já escolheram um lado.  Isto tudo é possível somente com um pais independente , e infelizmente o Brasil não é , cabe a nós trabalhadores fazermos esta independência,  rompendo com o mercado e mostrando aos demais trabalhadores do mundo que é possível ousar , para melhorar nossas vidas.