8 de ago. de 2013

Cadê o Amarildo - parte 2

Como parte da campanha Cadê o Amarildo, publicamos abaixo texto enviado por Max Laureano, sobre o desaparecimento do Amarildo.

   

    Na tradição das políticas de segurança pública (e privada!) existe um conceito que historicamente norteou algumas ações de alguns agentes executores da Lei. Para estes, existem pessoas “matáveis’, isto é, são pessoas que podem ser mortas, executadas, com a certeza plena de impunidade, e a consciência tranquila, ao acharem que a sociedade não irá questionar as ações desses agentes de segurança nas favelas e/ou comunidades carente.
Isto é possível de se constatar nos milhares de registros do auto de resistência (morte em confronto com a polícia), com o objetivo de mascarar homicídios cometidos por policiais civis e militares, uma peça jurídica, que inocenta e por vezes até promove quem está por trás da arma. Por vezes, a certeza da impunidade é tanta, que sequer se faz uso desse artifício. Simplesmente se "desaparece" com a vítima. Os métodos de desaparecimento têm se modernizado com o tempo, devido a dois elementos: em primeiro lugar à evolução das técnicas periciais (não há um “CSI Rio de Janeiro”, mas...), e mais importante do que isso, devido a mobilização de setores da sociedade, ONG's, sites e organizações de comunicação comunitária, jovens militantes com suas câmeras ágeis e curiosas, ligadas às redes sociais. Isso tudo, infelizmente, não impede que a vontade de demostrar poder e impunidade seja mais forte.
    Segundo dados da Anistia Internacional, a PM de São Paulo e do Rio de Janeiro matam mais do que países com pena de morte. A certeza da impunidade faz o policial cometer o crime. Para a família da vítima, apena resta a esperança de encontrar o ente "desaparecido" vivo. Foi assim com o menino Juan, morto por PM's em Nova Iguaçu. E infelizmente, assim também parece ser o caso do pedreiro Amarildo, morador da favela da Rocinha. Ambos, Juan e Amarildo(assim como tantos outros), para a lógica "subterrânea", são pessoas “matáveis". Negros, pobres, moradores de comunidades carentes. Talvez quem os levou pensou que estes seriam vítimas fáceis. Eram. Talvez quem os levou pensou que ninguém sentiria suas faltas, ou que não fossem reclamar "às autoridades competentes", por medo de retaliação ou de não serem ouvidos.
Erraram. Os "desaparecimentos" tanto de Juan quanto de Amarildo, acabaram gerando uma forte mobilização, que colocam em xeque a polícia do governador Sérgio Cabral, e sua certeza plena de impunidade, sua escolha por matar primeiro e averiguar depois. Parte da sociedade brasileira pergunta: onde está Amarildo? Alguns sabem a resposta, mas preferiam não saber.
    A demora em responder, por parte da Secretaria de Segurança do estado do Rio de Janeiro, somente comprova a triste verdade: ele não está mais fisicamente entre nós. Tornou-se estatística, dolorosa e vergonhosa estatística, das pessoas vítimas de uma polícia racista e pré conceituosa, por ter o conceito pré concebido que todo favelado é seu inimigo, logo pessoa "matável".
    O Governador Sérgio Cabral acaba de declarar no Twitter que a Escola Municipal Friedenreich não será mais demolida. Assim como decidiu manter o estádio Célio de Barros e parque aquático Júlio Delamare. São vitórias dos movimentos sociais, que fizeram o governador recuar e "jogar pra plateia", para recuperar sua popularidade. Agora o governador do estado do Rio de Janeiro tem que: Reencontrar Amarildo, vivo! E indenizar sua família. Investigar todos os desaparecimentos de "Amarildos" em todas as favelas do estado, punindo exemplarmente os responsáveis, independente do cargo ou patente do responsável, com fiscalização de entidades de defesa de direitos humanos, nacionais e internacionais. Emitir um pedido de desculpas por todos os atos de desrespeito, violência, covardias, para com as comunidades pobres, favelas e movimentos sociais, por parte da PM do Rio. Simples assim.
    Gostaria muito de que, no momento em que acabo de escrever este texto, lesse em algum lugar que o pedreiro Amarildo acaba de ser encontrado, e que está bem. Mas, as estatísticas, e a tradição de violência e desrespeito ao povo pobre, provavelmente não deixarão isso acontecer. Com a palavra, a polícia do estado do Rio de Janeiro: Onde está Amarildo?


Nota do PSTU ABC: A juventude e os trabalhadores do Rio têm uma oportunidade de conquistar uma grande vitória e varrer o corrupto Cabral do poder. Porém, é preciso dar um passo à frente e unificar as mais diversas lutas travadas contra o governador. É preciso unir a luta dos estudantes, bombeiros, professores, servidores estaduais, os moradores das favelas e todo o movimento social organizado no Fórum de Lutas, exigindo a saída de Cabral. Só assim o movimento pode ser vitorioso na luta pelo fim da PM, estatização dos transportes e instituição da tarifa zero. agora é hora: Todos nas ruas pelo "Fora Cabral"!