24 de jul. de 2013

Cortina de Fumaça: O Papa, a Igreja Católica e os anseios da população brasileira

por Lígia Gomes


Respeitamos os trabalhadores e trabalhadoras católicos que vêm com bons olhos a vinda do Papa ao Brasil e aos jovens que participam a Jornada Mundial da Juventude, mas queremos colocar os objetivos políticos e econômicos que estão por trás da visita do Pontífice.


Chegou ontem ao Brasil o Papa Francisco para a 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Pregando humildade e defesa dos jovens que são os mais afetados pelo desemprego em todo o mundo, o Papa ainda recebeu um pedido da Presidente Dilma Roussef para atuar em conjunto com o governo Brasileiro na promoção de programas sociais que diminuam a desigualdade no mundo.

O Papa Francisco vem sendo saudado pela imprensa brasileira e por muitos religiosos como um renovador progressista da Igreja Católica, por seu apelo a uma vida simples e mais humilde. Seu discurso ontem foi nesse sentido, parafraseando o apóstolo Pedro afirmou: “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!.

Tudo muito bonito e adequado após as grandes manifestações que sacudiram o Brasil em junho e julho, mas infelizmente é uma cortina de fumaça para desviar a população em geral e os jovens em particular dos problemas que os fizeram ir às ruas em julho e que não serão resolvidos com belos discursos num evento que consumiu pelo menos 118 milhões de reais de recursos públicos e ainda contra com patrocínios de grandes bancos e empresas como o Bradesco, o Banco Opportunity e a Nestlé.

Aliás, poderíamos ir além e ponderar que se o Papa veio a nós sem outro e prata, bem que poderia ter trazido um pouco do outro e prata de nos foram levados por todo o período colonial e que até hoje embelezam o Vaticano e Igrejas Católicas da Europa.

No entanto, o intuito desse artigo é destacar como, apesar dos esforços de propaganda e marketing, a Igreja Católica segue na contramão das reivindicações dos jovens, das mulheres e da população oprimida em todo o mundo.

A Igreja Católica segue sua campanha contra o sexo antes do casamento e contra o aborto. Na própria JMJ está sendo distribuída uma cartilha que veicula informações equivocadas de que um zigoto, um embrião e um feto são crianças, e que, portanto, o aborto seria um assassinato. Isso não se restringe aos católicos, um crime é crime para qualquer religião (ou mesmo nenhuma religião), portanto, a Igreja segue criminalizando as mães e, considerando o contexto brasileiro, atua em favor do Estatuto do Nascituro, que prevê, por exemplo, a bolsa estupro e uma restrição ainda maior aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.  É importante destacar que pesquisa encomendada ao IBOPE pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir e publicada ontem revela que cerca de 60% dos jovens católicos brasileiros é contrária à prisão de uma mulher que tenha realizado um aborto (Veja mais detalhes dessa pesquisa aqui).

Por trás dessa pretensa defesa da vida, há na verdade um descaso com a vida das mulheres, que seriam obrigadas não apenas a ter a criança gerada a partir de um estupro, mas ainda correriam o risco de ter que conviver com o estuprador que seria obrigado a pagar uma pensão alimentícia até que o filho tivesse 18 anos. Além disso, segundo o Conselho Federal de Medicina no Brasil o aborto é a quinta causa de mortalidade materna, enquanto num país como o Uruguai, que recentemente legalizou o aborto até 12 semanas, nenhuma morte materna devido ao aborto foi registrada a partir da legalização.

O Papa Francisco, antes de assumir o pontificado, quando ainda era o Cardeal Jorge Bergoglio em Buenos Aires, assumiu uma luta contra a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina. “O povo argentino deverá afrontar nas próximas semanas uma situação que, caso tenha êxito, pode ferir seriamente a família. Está em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Não devemos ser ingênuos: essa não é simplesmente uma luta política, mas é um atentado destrutivo contra o plano de Deus”. E novamente vemos que a sociedade que o Papa defende é frontalmente oposta àquela que defenderam os milhares que gritaram – e ainda gritam – Fora Feliciano! Oposta também aos 56% de jovens católicos que apoiariam o Papa se ele optasse por aceitar a união de pessoas do mesmo sexo.

Por isso o PSTU ABC apoia e participa das manifestações que denunciam a vinda do Papa, que mostram que os recursos gastos com essa vinda, bem como as inúmeras isenções fiscais que recebe a Igreja em nosso Estado supostamente laico poderiam ser muito melhor utilizados em proveito dos trabalhadores e do povo pobre, para aumentar os salários, gerar mais empregos, melhorar a educação, a saúde e investir na cultura brasileira!

Ainda, achamos importante a participação dos movimentos feministas nessa denúncia, pois, como acima, as mulheres e os homossexuais estão entre os mais afetados pelas posições políticas defendidas e implementadas pela Igreja Católica do Papa Francisco.

Veja mais:  Juventude do PSTU - Porque não vamos à Jornada Mundial da Juventude
Católicas pelo direito de Decidir vídeo Catolicadas – Um recado ao Papa