Respeitamos os trabalhadores e trabalhadoras católicos que vêm com bons olhos a vinda do Papa ao Brasil e aos jovens que participam a Jornada Mundial da Juventude, mas queremos colocar os objetivos políticos e econômicos que estão por trás da visita do Pontífice.
Chegou ontem ao Brasil o Papa Francisco para a 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Pregando humildade e defesa dos jovens que são os mais afetados pelo desemprego em todo o mundo, o Papa ainda recebeu um pedido da Presidente Dilma Roussef para atuar em conjunto com o governo Brasileiro na promoção de programas sociais que diminuam a desigualdade no mundo.
O Papa Francisco vem sendo
saudado pela imprensa brasileira e por muitos religiosos como um renovador
progressista da Igreja Católica, por seu apelo a uma vida simples e mais
humilde. Seu discurso ontem foi nesse sentido, parafraseando o apóstolo Pedro
afirmou: “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado:
Jesus Cristo!”.
Tudo muito bonito e adequado após as grandes manifestações
que sacudiram o Brasil em junho e julho, mas infelizmente é uma cortina de
fumaça para desviar a população em geral e os jovens em particular dos
problemas que os fizeram ir às ruas em julho e que não serão resolvidos com
belos discursos num evento que consumiu pelo menos 118 milhões de reais de
recursos públicos e ainda contra com patrocínios de grandes bancos e empresas
como o Bradesco, o Banco Opportunity e a Nestlé.
Aliás, poderíamos ir além e ponderar que se o Papa veio a
nós sem outro e prata, bem que poderia ter trazido um pouco do outro e prata de
nos foram levados por todo o período colonial e que até hoje embelezam o
Vaticano e Igrejas Católicas da Europa.
No entanto, o intuito desse artigo é destacar como, apesar
dos esforços de propaganda e marketing, a Igreja Católica segue na contramão
das reivindicações dos jovens, das mulheres e da população oprimida em todo o
mundo.
A Igreja Católica segue sua campanha contra o sexo antes do
casamento e contra o aborto. Na própria JMJ está sendo distribuída uma cartilha
que veicula informações equivocadas de que um zigoto, um embrião e um feto são
crianças, e que, portanto, o aborto seria um assassinato. Isso não se restringe
aos católicos, um crime é crime para qualquer religião (ou mesmo nenhuma
religião), portanto, a Igreja segue criminalizando as mães e, considerando o
contexto brasileiro, atua em favor do Estatuto do Nascituro, que prevê, por
exemplo, a bolsa estupro e uma restrição ainda maior aos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres. É importante
destacar que pesquisa encomendada ao IBOPE pela ONG Católicas pelo Direito de
Decidir e publicada ontem revela que cerca de 60% dos jovens católicos
brasileiros é contrária à prisão de uma mulher que tenha realizado um aborto
(Veja mais detalhes dessa pesquisa aqui).
Por trás dessa pretensa defesa da vida, há na verdade um
descaso com a vida das mulheres, que seriam obrigadas não apenas a ter a
criança gerada a partir de um estupro, mas ainda correriam o risco de ter que
conviver com o estuprador que seria obrigado a pagar uma pensão alimentícia até
que o filho tivesse 18 anos. Além disso, segundo o Conselho Federal de Medicina
no Brasil o aborto é a quinta causa de mortalidade materna, enquanto num país
como o Uruguai, que recentemente legalizou o aborto até 12 semanas, nenhuma
morte materna devido ao aborto foi registrada a partir da legalização.
O Papa Francisco, antes de assumir o pontificado, quando
ainda era o Cardeal Jorge Bergoglio em Buenos Aires, assumiu uma luta contra a
aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina. “O povo argentino deverá afrontar nas
próximas semanas uma situação que, caso tenha êxito, pode ferir seriamente a
família. Está em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e
filhos. Não devemos ser ingênuos: essa não é simplesmente uma luta política,
mas é um atentado destrutivo contra o plano de Deus”. E novamente vemos que
a sociedade que o Papa defende é frontalmente oposta àquela que defenderam os
milhares que gritaram – e ainda gritam – Fora Feliciano! Oposta também aos 56%
de jovens católicos que apoiariam o Papa se ele optasse por aceitar a união de
pessoas do mesmo sexo.
Por isso o PSTU ABC apoia e participa das manifestações que
denunciam a vinda do Papa, que mostram que os recursos gastos com essa vinda,
bem como as inúmeras isenções fiscais que recebe a Igreja em nosso Estado supostamente
laico poderiam ser muito melhor utilizados em proveito dos trabalhadores e do
povo pobre, para aumentar os salários, gerar mais empregos, melhorar a
educação, a saúde e investir na cultura brasileira!
Ainda, achamos importante a participação dos movimentos
feministas nessa denúncia, pois, como acima, as mulheres e os homossexuais
estão entre os mais afetados pelas posições políticas defendidas e
implementadas pela Igreja Católica do Papa Francisco.
Veja mais: Juventude
do PSTU - Porque não vamos à
Jornada Mundial da Juventude
Portal de notícias R7
- Desde
a legalização, Uruguai não registra mortes de mulheres por aborto
Católicas pelo direito de Decidir vídeo Catolicadas – Um recado ao
Papa