7 de mar. de 2014

Entrevista com professora Tânia Vendrasco sobre a Greve das ETEs e FATECs em São Paulo



Os professores e funcionários das Escolas Técnicas Estaduais(ETEs)e Faculdades de Tecnologia (FATECs) estão em greve por um Plano de Carreira, por melhores condições de trabalho e salários. O PSTU apoia esta luta dos trabalhadores de educação e esta junto com os educadores, com os trabalhadores e trabalhadoras, pais dos estudantes das ETEs e FATECs contra a precarização da educação paulista imposta pelo governador Geraldo Alckmin.
Publicamos abaixo trechos da entrevista com a professora Tânia Vendrasco, da ETE Lauro Gomes, sobre as razões da greve, as próximas atividades e o dia 8 de março, dia de luta da mulher trabalhadora. Confira o áudio da entrevista completa aqui.

 
COMO COMECOU A GREVE? E POR QUÊ?


Essa greve de 2014 tem gente que acha que é uma greve nova. Ela não é nova, na verdade é uma greve em continuação a greve de 2011. Então na época em 2011, o que nós tínhamos? Além de não conseguir contratar ninguém para trabalhar aqui, fosse professor, fosse funcionário, nós também não conseguíamos a permanência deles. Então, sofríamos de evasão de docentes de funcionários. Aí fizemos a greve, e nos mobilizamos em comissões, e conseguimos uma parte da negociação que era o reajuste automático para todos, a progressão para os iniciantes de carreira, a progressão funcional de todos que aqui já se encontravam e o plano de carreira, a construção de um plano de carreira.

O QUE SERIA O PLANO DE CARREIRA?

O plano de carreira existe para criar uma estabilidade financeira para o profissional que trabalha na instituição. Então eu vou dar o meu exemplo: estou ha 22 anos na instituição. Eu, como profissional, tenho que ser valorizada no meu tempo de serviço, de prestação de serviço a instituição. Então se eu estou aqui há´22 anos, significa que eu estou sendo fiel a instituição, que eu trabalhei aqui, que eu recebi convites para trabalhar em outras escolas mas eu permaneci  aqui. Então nesta permanência, eu sou valorizada pelo tempo de permanência. Ao mesmo tempo a progressão por titulação -  se eu vou fazer uma especialização, se eu vou fazer um mestrado, um doutorado, eu também teria essa evolução por estudos. Então esse é o chamado plano de carreira. O plano de carreira ele tem um prazo para valorizar o funcionário e o professor. Ele tem 30 anos de existência. Então, a pessoa estando na instituição por 30 anos, ela vai tendo essa progressão por tempo de serviço e por titulação.
Então o que é a greve de 2014? Porque ela aconteceu hoje? Porque ficou uma parte do acordo sem o governo cumprir. Qual era a parte do acordo? Era o plano de carreira. Nós fizemos um plano de carreira ao longo de 3 anos, nós conversamos com secretários, conversamos com o Centro Paula Souza,  os funcionários estudaram esse plano de carreira, todo mundo colaborou para construir o plano de carreira, aí na hora de colocar o plano de carreira na ALESP, na assembleia legislativa, o que que aconteceu? Ele não andou! Fora o prazo, que nem era novembro de 2013, na verdade ele ficou... é, é... o sindicato até brinca, fala que ele é um urso hibernando durante 6 meses na secretaria de gestão e de lá ele não saiu! E aí nos descobrimos por um vereador da base do governador que, realmente, esse plano de carreira ficou engavetado. Através de um vereador! Ele nos disse: O plano estava realmente engavetado e a ideia era não sair de lá. De fato! Então a segunda parte do acordo que nos fizemos com o Estado de São Paulo não foi cumprida. Aí voltamos a greve em 2014. Porque? Porque como eu disse a você era uma comissão extremamente organizada, mobilizada e continuamos sendo. Então nós fomos enganados na segunda parte do acordo. E nós falamos “se nós formos enganados, nos vamos voltar a greve!”.  E nós voltamos com a greve de 2014. 

E QUAL É A SITUAÇÃO HOJE DA ETE LAURO GOMES? EM RELAÇÃO A ESTRUTURA?  EM RELAÇÃO A QUANTIDADE DE PROFESSORES? COMO ESTÁ A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO HOJE NA ESCOLA?


Vou te falar a respeito da infraestrutura hoje e das questões da situação da escola. A situação da escola melhorou? Não! Infelizmente! Porque? Porque 11 reais hora/aula, ainda é muito baixo. Eu vou te dizer o que aconteceu nesta semana:  eu compus uma banca de uma comissão avaliadora para docentes, novos docentes. Não veio nenhum! Eram 10 candidatos e não vieram, porque? Porque o valor da hora aula é 11 reais para iniciante,  os professores não têm direito a 6 faltas abonadas durante o ano que o docente da rede publica tem da secretaria de educação, das escolas publicas do estado de são Paulo. Ou seja, nós trabalhamos seis dias ao ano de graça. Eu fiz a conta para mim, dá quase um semestre que trabalhei de graça para instituição, porque eu não tenho direito de faltar. Os funcionários da rede pública têm direito a entregar atestados particulares, nós não temos. Nosso atestado particular tem que ser trocado pelo do SUS. Nós não temos convenio médico como eles tem, no IAMSPE, nós não temos convenio. Se um parente nosso falece, ou se nós ficamos doentes, no bônus, deste governo que fala que é meritocrata, então que eles dão bônus para as melhores escolas, que apresentam melhor desempenho, no bônus nós somos descontados se ficamos doentes. Eu fui descontada, inclusive por conta do trabalho, tive um problema na coluna. E fui descontada, não ganhei o mesmo bônus dos outros profissionais. Porque faltei por estar doente. E também se você perde algum parente, você é descontado no bônus. Então tem coisas muito injustas, nós sofremos de maus tratos. Os profissionais daqui, além de ganharem mal, não têm direito nenhum, não podem faltar, não tem professor substituto, tem que repor aula, mesmo que você vá a um congresso. Eu gosto muito de ir a congressos internacionais de educação para melhorar minha pratica na sala de aula. Que acontece? Conversei com a superintendente em 2011 sobre isso: “É impossível! Vocês tem que incentivar o profissional docente a fazer curso e não penalizar!”. Então se eu fico 4 dias num congresso internacional, quando eu volto tenho que repor aula. Eu tenho que repor as aulas que não perdi. Não considero perdidas, eu estava num congresso aprimorando minha profissão. Então nos sofremos muitas injustiças. E o que é muito incoerente, o que eu acho que é o paradoxo mesmo da situação: nós somos excelentes profissionais. Se comparados a outros profissionais da rede pública. Porque nos mantemos o padrão de qualidade. Qual é o índice que diz isso para pelo menos nós professores do ensino médio? O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Nossas escolas, as ETE’s estão sempre nos melhores patamares, com o desempenho das escolas públicas do estado de São Paulo. E não somos tratados assim, então achamos que é uma incoerência. O governador não nos chama de As joias da coroa? E nos trata como joias da coroa da China, só se for. Que a gente brinca é um negócio da China. Quer dizer um negócio altamente rentoso, porque a população aprova. Que sabe do índice de qualidade, mas aqui dentro ninguém conhece a realidade. Então a gente tá falando sobre essa realidade agora. Porque se não foi cumprida a segunda parte no acordo nós estamos indo a luta por isso.
 
Questão de infraestrutura: Sobre a Lauro Gomes, dizem que uma das melhores em questão de infraestrutura, mas ainda sim nos achamos ruim. Porque o prédio tem 50 anos e ele não foi cuidado nas bases mesmo. Nós temos rachaduras que nem sabemos se são perigosas, na minha sala de aula mesmo caiu o telhado em 2012. Aí nós tivemos que reformar o bloco 3 inteiro! Então nós passamos por essa situação. A parte de fiação elétrica que é antiga. Aí temos os equipamentos novos, que às vezes queremos usar, mas se ligarmos todos juntos da pane, da “tilte” na fiação elétrica. Então, o que acontece? Eu falei isso na ALESP em 2011, quando disseram que a nossa escola era exemplo de excelência no Estado de São Paulo: Excelência no sentido docente, do professor, de qualidade do professorado, porque de infraestrutura não é! O governador decidiu, quando ainda era secretario um plano de expansão das ETEC’s, e tem a ideia de expandir mais ainda. Para mais de 300 até o ano que vem. Então, expandem-se as ETEC’s, mas não se cuida das já existentes. E as que estão sendo construídas não estão lá essas coisas em termos de qualidade pq já existem reclamações. Que já tem forro caindo e coisas desse tipo. Eu sou da época das 14 unidades iniciais. De 14 nós fomos para mais de 200. E essas 14 continuam lá com seus 50 anos de existência, 40 e poucos anos e não passando por reformas. Quando fizemos a reforma aqui no bloco 3, descobrimos eu não existe verba destinada para a manutenção das escolas. Não existe prevenção em relação a manutenção das escolas. Quer dizer, só quando cai o telhado é que vai reformar.


E COMO ESTÁ A PARTICIPAÇÃO DOS PROFESSORES E ALUNOS NA ETE LAURO GOMES?
Na Lauro Gomes, há uma participação boa. Eu considero que 15% só que não aderiu  e mantemos praticamente o mesmo índice desde o inicio da greve. Professores muito mobilizados, realmente interessados em defender essa causa. Porque entendem que não estão defendendo só seus interesses seu bolso, mas a continuidade da qualidade docente aqui da instituição. Porque se vc não tem um plano de carreira para trazer esperança pelo menos para os futuros professores, não tem nada para oferecer de vantasojo. Essa semana, mesmo, perdemos um professor por conta disso, né?  Por conta de comparar uma escola a outra. Se formos comparar ele teve uma proposta melhor em outra escola e aí ele ficou mto balançado em abandonar nossa escola, porque ele é iniciante. Quer dizer quanto ele vai ter que percorrer de caminho pra poder sustentar a família dele.  (inclusive de dar as condições para que tenham novos  professores, e não como a banca vazia desta semana). Aí tem gente que diz que a banca está vazia porque estamos em greve. Não é verdadeiro este motivo, pq o ano passado nos fizemos está banca tinha 25 candidatos e conseguimos aprovar apenas dois candidatos. E teve evasão também, muitos não vieram fazer o exame, por conta do precário valro de hora aula.

E NO ESTADO? COMO ESTA A GREVE?
No geral, ontem estive no comando geral de greve, são 118 unidades em greve. O que pra nós já é a maior greve que já tivemos na historia do sindicato. Maior número de participantes. Maior número de pessoas mobilizadas, interessadas realmente que a coisa aconteça que o plano de carreira saia da gaveta e seja aprovado o mais rápido possível na ALESP e com menos cortes. E com a participação de funcionarios tambem, que é uma novidade para nós.



E QUAIS SÃO AS PROXIMAS ATIVIDADES DA GREVE AQUI NA REGIÃO?
Temos agora a preocupação de nos mobilizar assim que o plano de carreira entrar na ALESP que o prazo combinado é até hoje (sexta – 28/02/14). Então se hoje o plano de carreira, realmente, - que foi o que o governador prometeu – for enviado a Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), nos faremos nossa campanha dentro da ALESP. Tivemos contato com o deputado Alex Manente, deputado da base do governo, e ele nos prometeu que assim que entrasse o plano de carreira na ALESP nos enviaria para que fizemos emendas. Nós não temos a pretensão de fazer nenhum, como sempre fizemos, discurso partidário, defendendo ou criticando partido político. Estamos defendendo os interesses dos profissionais do Centro Paula Souza. Estamos querendo a valorização do servidor do Centro Paula Souza que sofre muitas injustiças de comparado a outros profissionais. Então é isso que estamos defendendo, o interesse profissional mesmo. Então para mim, a adesão de 118 unidades e com a participação de funcionários é muito positivo. E acredito que vai crescer mais ainda.

ENTÃO CONSEGUIU UM CANAL DE DIALOGO COM  O GOVERNO?
Sim com a ALESP, assim que o plano de ação entrar na ALESP, vai ser enviado para o colégio de lideres das bancadas pra que haja um estudo rápido – o plano de carreira e para que haja unanimidade, porque se entende que o profissional do centro Paula Souza foi prejudicado nestes últimos 20 anos. A ação vai ser na ALESP, mas também teremos um ato na prefeitura de São Bernardo. Nós estamos combinando para sexta feira que vem com saída as 20 horas aqui na rampa da ETE Lauro Gomes com a saída do caixão da sexta parte dos direitos perdidos no plano de carreira. Um velório as pessoas acompanhando com velas. Um procissão que vai dar a volta no paço municipal e vai subir a Lucas nogueira Garcez com a participação do sindicato e das pessoas que quiserem vir e aderir ao movimento. Um movimento pacifico, sem arruaça sem nada, por que não é do nosso interesse, nós somos intelectuais, não temos interesse em fazer algazarra. Temos interesse em fazer um movimento pacifico, mostrar a nossa indicação e pra sociedade o quanto ela vai estar perdendo, caso não se cumpra o plano de carreira, porque aí as etec’s vão perdendo realmente qualidade e vai acontecer a evasão de profissionais, de bons profissionais.

POR ULTIMO, ESTAMOS PERTO DO 8 DE MARÇO, A CATEGORIA DE PROFESSORES AINDA TEM HOJE MAIORIA ABSOLUTA DE MULHERES. COMO ESTÁ A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NAS ATIVIDADES DA GREVE, SE ESTÃO TENDO DIFICULDADES, HÁ POUCAS MULHERES?
Eu acredito que esteja bem equilibrada, se  não for um pouquinho maior em porcentagem com relação aos homens. As mulheres são realmente batalhadoras, não sei se é pela característica de serem mães, ou mesmo por exemplo eu sou batalhadora e não sou mãe e não penso só nos professores ou nos funcionários, penso nos alunos. Eu sou muito coerente nessa minha teoria e na minha pratica dentro da sala de aula. Falo para todo mundo, não adianta falar mal do governo, ou ficar apontando suas falhas, se você não vai a luta. Tem que propor soluções para os problemas. Tem problemas? Tem. Então vamos propor soluções e tentar resolver. Você como cidadão consciente, como cidadão critico, vc tem esse direito de lutar por aquilo que vc acha correto. Então quando eu me ponho a luta hoje, como eu acho que todas as professoras, estamos defendendo os interesses dos alunos e dos futuros alunos. Eu falo pra eles [os alunos]: nós estamos cuidando da geração dos filhos de vocês para que eles possam entrar nas ETEC’s e ainda sentirem orgulho de estudar aqui. Porque tem excelentes professores dando aula e excelentes funcionários trabalhando na instituição.